quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Esquecer versus Perdoar


Estive pensando a respeito do ato de perdoar. Sempre ouço, eu sou alguém que perdoa, sempre perdôo. Ou ainda; Perdôo, mas não esqueço, entendo as razões blá, blá, blá...

Na verdade, da maneira que vejo é um falso perdão, um perdão vingativo que subtrai algo de valor dessa pessoa supostamente perdoada. Esta ainda é submetida a uma sentença sem direito à defesa ou argumentação, isto, se quiser, um dia, realmente receber a indulgência pelos seus atos...

Esses castigos são pequenos atos, com requintes de crueldade e com certeza prazerosos para o punidor, que se prolongam na mesma medida que o contraventor se recolhe por; primeiro saber que pisou na bola, e depois, porque quer que tudo volte a ser como antes.

Vai daí que, em alguns casos, a relação transforma-se totalmente, os personagens são agora Dominante e Dominado, sem aqui definir gênero ou tipo de relação, e pode prolongar-se indefinidamente até que, principalmente o dominante, enjoe da brincadeira e dispense de seu convívio o dominado, por justificativas aleatórias, mas que em essência tem uma única verdade, o pobre nunca foi perdoado realmente.

Em outros casos, mais felizes, o "contraventor" assume seu deslize seja ele qual for e coloca o dominador/punidor em situação de decisor, mas somente com duas opções, a volta ao estado original da relação ou o fim dela. Apesar de drástico costuma funcionar muito bem, já que, se o perdão está por vir, ele virá mais cedo, caso contrário evitam-se batalhas e suplícios em vão.

Claro que é preciso coragem para arriscar-se desta maneira, e muitas vezes preferimos um pode ser que o perdão venha um dia mas que na verdade sabemos que significa nunca. Agimos como puxando um esparadrapo lentamente, e por vezes, colando novamente só pra recomeçar e infantilmente acreditar que vai doer menos.

Tudo isso leva a crer que eu não acredito em perdão, certo? ERRADO

Voltemos ao principio, mais objetivamente ao título Esquecer versus Perdoar.

Esquecer, eis a resposta, somente as pessoas que esquecem perdoam verdadeiramente. Você vai me dizer, mas esquecer não é uma escolha, se algo acontece fica registrado na memória e pronto. E ai vai minha opinião;

Sabe quando falam sobre o Dom de Perdoar? Esta é a capacidade de olhar o outro sem ver aquele que foi injusto, magoou, ofendeu, etc., etc...

Parece impossível? Daí vem a definição de Dom, ser capaz de fazer com certa facilidade o que para muitos é praticamente impossível ou no mínimo requer um grande esforço.

Claro que não estou definindo nenhum santo, e obviamente, por um momento foi atingido pela indignação, dor e revolta pelo ato cometido contra si. Na maioria das vezes essas pessoas expressam esse sentimento de forma forte em uma postura entre defesa e ataque, e ... Respira... Afasta-se e deixa esse sentimento morrer.

E ai em uma mistura de perdão, esquecimento e devaneio, deixa alojado no passado o momento que o feriu, ato e autor congelados no tempo, inertes e findos.

E assim quando olha o outro, o vê despido do fardo da culpa pela mágoa e dor. Somente o individuo no presente com suas características atuais e atemporais. Você pode me dizer, ele na verdade é um bobo, vão voltar a feri-lo sempre e ele nem estará preparado para defesa.

Primeiro, a falta de memória já é uma defesa, já que quem carrega o fardo da ira, e do desejo de vingança é quem sente. Depois, não estou me referindo à incompetência de raciocínio, todos nós aprendemos com nossas experiências, e desde os primórdios é o que garantiu nossa sobrevivência como espécie. Então instintivamente nos tornamos hábeis em enfrentar situações que já vivenciamos. Na verdade estou me referindo à ausência do instinto de vingança.

Este sim é o verdadeiro perdão, encarar o outro sem reviver a experiência desagradável que dividiram, o "Dom de Esquecer".

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