sábado, 10 de abril de 2010

RIFA-SE UM CORAÇÃO (quase novo)


Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

Clarice Lispector

Canção das mulheres



Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

Lya Luft

Este post eu dedico a (V)

domingo, 7 de março de 2010




Não me provoque, tenho armas escondidas...

Não me manipule, nasci para ser livre...

Não me engane, posso não resistir...

Não grite, tenho o péssimo hábito de revidar...

Não me magoe, meu coração já tem muitas mágoas...

Não me deixe ir, posso nunca mais voltar...

Não me deixe só, tenho medo da escuridão...

Não me tente contrariar, tenho palavras que machucam...

Não me decepcione, nem sempre consigo perdoar...

Não espere me perder, para sentir minha falta !.

Clarice Lispector.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Esquecer versus Perdoar


Estive pensando a respeito do ato de perdoar. Sempre ouço, eu sou alguém que perdoa, sempre perdôo. Ou ainda; Perdôo, mas não esqueço, entendo as razões blá, blá, blá...

Na verdade, da maneira que vejo é um falso perdão, um perdão vingativo que subtrai algo de valor dessa pessoa supostamente perdoada. Esta ainda é submetida a uma sentença sem direito à defesa ou argumentação, isto, se quiser, um dia, realmente receber a indulgência pelos seus atos...

Esses castigos são pequenos atos, com requintes de crueldade e com certeza prazerosos para o punidor, que se prolongam na mesma medida que o contraventor se recolhe por; primeiro saber que pisou na bola, e depois, porque quer que tudo volte a ser como antes.

Vai daí que, em alguns casos, a relação transforma-se totalmente, os personagens são agora Dominante e Dominado, sem aqui definir gênero ou tipo de relação, e pode prolongar-se indefinidamente até que, principalmente o dominante, enjoe da brincadeira e dispense de seu convívio o dominado, por justificativas aleatórias, mas que em essência tem uma única verdade, o pobre nunca foi perdoado realmente.

Em outros casos, mais felizes, o "contraventor" assume seu deslize seja ele qual for e coloca o dominador/punidor em situação de decisor, mas somente com duas opções, a volta ao estado original da relação ou o fim dela. Apesar de drástico costuma funcionar muito bem, já que, se o perdão está por vir, ele virá mais cedo, caso contrário evitam-se batalhas e suplícios em vão.

Claro que é preciso coragem para arriscar-se desta maneira, e muitas vezes preferimos um pode ser que o perdão venha um dia mas que na verdade sabemos que significa nunca. Agimos como puxando um esparadrapo lentamente, e por vezes, colando novamente só pra recomeçar e infantilmente acreditar que vai doer menos.

Tudo isso leva a crer que eu não acredito em perdão, certo? ERRADO

Voltemos ao principio, mais objetivamente ao título Esquecer versus Perdoar.

Esquecer, eis a resposta, somente as pessoas que esquecem perdoam verdadeiramente. Você vai me dizer, mas esquecer não é uma escolha, se algo acontece fica registrado na memória e pronto. E ai vai minha opinião;

Sabe quando falam sobre o Dom de Perdoar? Esta é a capacidade de olhar o outro sem ver aquele que foi injusto, magoou, ofendeu, etc., etc...

Parece impossível? Daí vem a definição de Dom, ser capaz de fazer com certa facilidade o que para muitos é praticamente impossível ou no mínimo requer um grande esforço.

Claro que não estou definindo nenhum santo, e obviamente, por um momento foi atingido pela indignação, dor e revolta pelo ato cometido contra si. Na maioria das vezes essas pessoas expressam esse sentimento de forma forte em uma postura entre defesa e ataque, e ... Respira... Afasta-se e deixa esse sentimento morrer.

E ai em uma mistura de perdão, esquecimento e devaneio, deixa alojado no passado o momento que o feriu, ato e autor congelados no tempo, inertes e findos.

E assim quando olha o outro, o vê despido do fardo da culpa pela mágoa e dor. Somente o individuo no presente com suas características atuais e atemporais. Você pode me dizer, ele na verdade é um bobo, vão voltar a feri-lo sempre e ele nem estará preparado para defesa.

Primeiro, a falta de memória já é uma defesa, já que quem carrega o fardo da ira, e do desejo de vingança é quem sente. Depois, não estou me referindo à incompetência de raciocínio, todos nós aprendemos com nossas experiências, e desde os primórdios é o que garantiu nossa sobrevivência como espécie. Então instintivamente nos tornamos hábeis em enfrentar situações que já vivenciamos. Na verdade estou me referindo à ausência do instinto de vingança.

Este sim é o verdadeiro perdão, encarar o outro sem reviver a experiência desagradável que dividiram, o "Dom de Esquecer".

domingo, 14 de fevereiro de 2010

MUDANÇAS


Como comentei no post anterior é a dor que traz de volta, então vamos escrever.

Engraçado como quando desejo uma mudança em minha vida abro a Caixa de Pandora e os eventos começam a digirir minha vida num turbilhão incontrolável. Cuidado com o que desejas...

Nesses momentos tenho todas as dúvidas humanas e perguntas sem fim,
Será mesmo que deveria mudar TUDO isso na minha vida?
Será que mais uma vez vou conseguir me sair bem desse turbilhão?

É certo que se a Caixa de Pandora foi aberta é porque minha vida não me fazia mais feliz, mas . . . inerente à mudança, ela vem acompanhada da dor, da incerteza e até daquela vontade de ficar quietinha esperando a tempestade passar, imóvel sem ação ou reação.

Acontece que não funciono assim, e como alguém da geração Y me explicou, se a mudança faz sentido a gente deixa o estado de pode ser feito para o estado do tem que ser feito.

E por isso estou aqui agora, meus amores distantes, minha vida como eu a conheço por um fio e uma grande névoa chamada futuro. E isso é uma dor interminável no peito, uma sensação de beira do abismo todo o tempo.

E vou seguindo, errando muito, e como tenho errado, desde distração ao dirigir até exigir compensação pelo meu sofrimento aos meus amores, mas isso é um assunto para outro dia. Mas só para adiantar, afastei quem mais amo por cobrar que me suporte, me entenda e abdique de suas coisas por mim. Mais besteira? Acho que sim

Estou me sentindo sozinha

"estou nua, na areia, no vento,
durmo"


CONSOLO NA PRAIA



Vamos, não chores,
A infância está perdida
A mocidade está perdida
Mas a vida não se perdeu

O primeiro amor passou
O segundo amor passou
O terceiro amor passou
Mas o coração continua

Perdeste o melhor amigo
Não tentaste qualquer viagem
Não possui carro, navio, terra
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam
Nunca, nunca cicatrizam
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve,
À sombra de um mundo triste
murmuraste um protesto tímido
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas
Estás nú, na areia, no vento....
Dorme, meu filho

C.D.A.


Ando ausente deste meu espaço, vivendo a vida a cada minuto, mas vejam, a dor me traz de volta.

A Felicidade é burra, a Dor é produtiva.


domingo, 11 de outubro de 2009

O QUE SERÁ (A FLOR DA PELE)


O que será que será
Que andam suspirandoPelas alcovas?
Que andam sussurrando
Em versos e trovas?
Que andam combinandoNo breu das tocas?
Que anda nas cabeças?Anda nas bocas?
Que andam acendendoVelas nos becos?
Estão falando alto
Pelos boteco
E gritam nos mercados
Que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem concerto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...

O que será?
Que Será?
Que vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
Que juram os profetas
Embriagados
Está na romaria
Dos mutilados
Está nas fantasias
Dos infelizes
Está no dia a dia
Das meretrizes
No plano dos bandidos
Dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...

O que será?
Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo...

Chico Buarque de Holanda

Amor e sexo, sexo e amor, quem pode decifrar, quem pode definir, porque não tem sentido....